Monday, April 17, 2017

As Amigas da Mama.

"Há quem tenha muitas amigas. Eu tenho poucas. Há quem tenha amigas que vê todas as semanas. Eu tenho amigas que fico sem ver durante meses e, às vezes, anos. Há quem tenha as amigas da escola, as amigas do trabalho, as amigas das corridas, as amigas dos copos. Eu tenho as amigas da vida. Durante anos, achei que as verdadeiras amigas são aquelas que estão presentes nos nossos piores momentos e que ficam tristes com as nossas lágrimas. Hoje, acho sobretudo, que são aquelas cujos olhos brilham com as nossas gargalhadas e que partilham connosco os nossos melhores momentos. É fácil sermos solidários quando sentimos o cheiro a sofrimento e a mágoa. Mais difícil é vermos alguém feliz e partilharmos dessa felicidade, independentemente do estado da nossa vida, sem lugar a invejas ou ciúmes. Com essas amigas, já chorei desalmadamente. Desalmadamente não, com a alma toda, com o corpo dorido, a plenos pulmões, tentando deitar para fora não apenas lágrimas, mas sobretudo angústias e tristezas… Mas são as mesmas também para quem telefono quando a vida sorri e quando a felicidade é tamanha que não cabe no peito. É para elas que mando mensagens tão vazias de conteúdo como cheias de afeto. Não lhes minto, porque sei que, quando me olham nos olhos, me veem a essência. Por isso, são também elas que perdoam as minhas ausências, com ou sem explicações, mais ou menos elaboradas. É a elas que permito conselhos e repreensões. É a elas que permito que me apontem o dedo, porque também sei que, quando é preciso, são as mãos delas que lá estão. É com elas que grito de alegria quando me dizem “vou casar” ou “és das primeiras pessoas a saber que estou grávida”. Mas é também com elas que consigo estar em silêncio, sem que isso incomode ninguém ou, simplesmente, conversar como se não as visse há dois dias, apesar de não as ver há dois anos. Há quem tenha muitas amigas. Eu tenho poucas. No feminino, sim… porque há coisas que só se passam entre mulheres e há coisas que só partilhamos não com os amigos do peito, mas sim com as amigas da mama". (Ana Jordão)

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