Saturday, May 23, 2015

Temos de nos Dar.

"O dinheiro não é tudo. Pois não, não é. Este não é um texto sobre o consumismo. É um texto sobre as coisas boas da vida. Muitos auspiciam um futuro acompanhado de uma recheada conta bancária. Faz falta o dinheiro? Faz. Mas daí a tornarmo-nos reféns desse sonho não é de todo o que de melhor podemos desejar para nós próprios, sob pena de perdermos o que de verdade nos fará felizes na vida. Sou das que acredita que não nascemos para trabalhar e sim para aprender. A vida é feita de experiências que nos ensinam muito. Seja ter um filho, pôr no papel os nossos pensamentos sob a forma de poemas, participar numa discussão interessante, ler uma biografia há dois anos perdida na estante, plantar uma horta, ir à praia no Inverno, ir a um concerto, visitar amigos que não vemos há muito… várias coisas nos fazem crescer, evoluir, diariamente. Coisas que raspam nos nossos sentidos e nos fazem ver os dias através de uma diferente perspectiva. Coisas que não têm preço e que ficam dentro de nós, dentro daquilo que somos. Para sempre. Se nos encontrarmos, se descobrirmos o que realmente nos preenche e nos deixa plenos e realizados, estamos no bom caminho. Mas por vezes demora. Sei que sou comunicadora. Nasci com essa vontade de falar alto e de chegar aos outros. Também sei que sou eficaz nessa tarefa. É bom assumir o que fazemos bem. Deixei para trás o sonho de ser farmacêutica, por ter noção que não fui feita para viver num laboratório, mas sim na rua. Jamais poderia ter um trabalho das 9h às 17h. Poder, podia, mas nunca seria feliz. Não sou de rotinas. Descobri isto cedo. E pus o meu plano em marcha. Hoje sou profissional de comunicação e, à conta, disso cresci muito. Conheço diariamente muitas pessoas novas, tenho conversas diferentes todos os dias. Aprendo, no fundo. Todos os dias. E sou muito agradecida por ter um trabalho que não sinto como uma profissão, mas sim como um prazer. O que quer que façamos na vida, devemos fazê-lo por gosto, por amor. Porque nos revemos, porque gostamos do que produzimos, porque nos sentimos úteis, porque gostamos de aprender, porque nos faz bem. Desde há muito que dou valor ao que temos por garantido: uma música de manhã para começar bem o dia, a água que sai do chuveiro, o sol que nos visita no Inverno, uma boa refeição, os passeios pelo Alentejo, as brincadeiras com o meu filho, os bons dias dos vizinhos, os mergulhos no mar, os poemas do Vinicius de Moraes. Se assim não fosse, possivelmente teria dentro de mim a ambição de ser rica, de poder comprar um carro melhor, um barco, um jacto privado em última instância. Mas não… só preciso do suficiente. Do suficiente para me sentir feliz, segura e realizada. É por isso que as minhas despesas mensais nunca mudaram até hoje. Nunca gastei mais do que o necessário, mesmo quando em diferentes fases da vida ganhei mais dinheiro. Com este modo de gestão financeira, já consegui concretizar um outro sonho que tinha desde pequena: terra, campo, Alentejo. Mas fiz escolhas. Podia ter escolhido fazer longas viagens pelo mundo fora, podia ter decidido mudar para uma casa com garagem, podia ter uma senhora (homens há poucos) a ajudar-me nas tarefas domésticas e a deixar as refeições prontas, de segunda a sexta-feira. Mas o que me faz sentir bem é ver que sou capaz de realizar os meus próprios sonhos, o Alentejo neste caso. Sinto dentro de mim uma liberdade e um optimismo incríveis por saber que sou capaz. Acredito que temos mesmo de nos manter focados no que nos faz felizes. O tempo é o maior dos luxos e o que fazemos com ele, uma grande responsabilidade. O melhor da vida é grátis. O amor, a natureza, a espiritualidade, a bondade, a criatividade, a solidariedade, a generosidade. Mas para que estes valores façam parte de nós, temos de nos dedicar a eles. Dedicar-lhes tempo. Temos de fazer escolhas e temos de nos dar". (Leonor Poeiras)

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