Monday, May 25, 2015
Adeus é o que se dá depois de Tudo o que se Deu.
"Acabou e não houve aplauso. Acabou e ninguém pediu mais. Acabou e apagaram-se as luzes. Acabou e uma a uma, saíram pela porta todas as coisas que dividimos para não mais voltarem. "Não voltes ao lugar onde um dia foste feliz" eu prefiro não voltar ao lugar onde fui infeliz, peço-te que não voltes também.
Acabou e a parte do meu corpo que dormia colada ao teu, levantou-se e saiu da sala, os beijos que trocámos saíram ainda a peça não tinha chegado ao fim. Saíram as conversas e os segredos de mão dada, saíram as flores a correr com pressa, saiu o amor levado em braços pela realidade. Saíram todos. Não ficou nada. Nada. Só o silêncio. O silêncio tomou conta da sala e deu à nossa história o som de um cemitério. O silêncio levantou a música da cadeira, arrastou os poemas e expulsou-os ao pontapé. O silêncio sentou-se a olhar para mim e a rir da minha cara, o silêncio... Só o silêncio.
Acabou e ninguém nos vai chorar, acabou e ninguém se vai querer lembrar de nós. Nem nós. Acabou e ninguém nos veio salvar, lançamos tantos falsos alarmes que quando a casa ardeu ninguém nos ouviu pedir socorro.
Agora o mundo vai ser cruel comigo, não tem outra forma de ser. O mundo não espera enquanto sofres, o sol não espera que te levantes, os relógios não param para que chores, a vida não deixa de andar ainda que te sentes no chão e peças um minuto. E eu precisava de muito mais do que um minuto para recolher o que levaste. Precisava dos minutos todos, mas o mundo não tem tempo para as dores de amor, nem para dor nenhuma.
Ninguém morre de amor, é o que as pessoas dizem. Mas viver com o que fica da tempestade não é vida, é sobrevivência. E então sobrevive-se quando o espectáculo acaba e a sala fica vazia, levantam-se os pés do chão, limpa-se a cara e sobrevive-se.
Sobreviver não tem poesia, não tem amor, não calor nenhum nem graça. O mundo fica sem graça quando se sobrevive. Sobreviver é aquilo que fazes quando te levam a alma do corpo e o corpo teima em continuar a respirar e a pedir água.
Acabou e a palavra acabar não chega, morreu. E como amor para nós também não chegava eu fui-te e tu foste-me. Vivemos debaixo da mesma pele. Nós fomo-nos e morremos.
Acabou e não houve aplauso.
A saudade chegou atrasada, já todos se estavam a ir embora. A saudade chegou chorosa e viu o amor sair de táxi.
A saudade chegou, sentou-se ao colo do silêncio e deixou-se ficar.
É isto que fica no fim do fim, um luto no palco da vida em que os únicos espectadores são a saudade e o silêncio"
(Carolina Deslandes)
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