Saturday, May 23, 2015

"Meu amor, não contes a ninguém mas às vezes ainda durmo contigo.

Não te rias, juro. Às vezes ainda me abraças e me beijas as costas até sentires a minha respiração acalmar e adormecer. Às vezes ainda me colas ao peito, às vezes ainda me proteges do frio da noite. Às vezes ainda te sinto puxares-me para perto porque eu mais uma vez rebolei para a ponta oposta da cama e rejeitei os cobertores. Às vezes ainda sinto as tuas mãos no meu cabelo e ainda descanso a cabeça no teu colo. É incrível como no nosso amor o tanto é tão pouco. Uma cama, duas pessoas e a vida não acontecia lá fora mas cá dentro. O nosso amor acontecia sem esforço e sem espectadores e aquele quarto foi palco de mil e um cenários que inventámos e dividimos e outros que guardámos quando te encontrava perdido a olhar para mim e quando me perdia a olhar-te. Às vezes ainda sinto a ponta dos teus dedos a desenhar-me. O desenho que fizeste de mim ainda está pendurado na minha parede. É a tua versão de mim. Se calhar não é contigo que durmo, é isso. Se calhar durmo com o desenho que fizeste de mim. É incrível como no nosso amor um era o desenho do outro. O teu desenho de mim é só o meu corpo, com o teu rosto, com vestígios de amor, de pele e de carne. Se calhar o amor é isso, é o apaixonar pelo desenho que o outro faz de nós. Meu amor, não contes a ninguém mas às vezes ainda durmo contigo". (Carolina Deslandes)

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