Sunday, February 8, 2009

Mãe, eu não quero ser grande!

'Quero olhar para as árvores e pensar sempre que elas tocam no céu, quero imaginar que vivem anjos nas nuvens, que não existem horas nem minutos, só existe dia quando já há luz e noite quando as estrelas e a lua iluminam as ruas, lá ao fundo da janela, feitas de mil luzinhas brilhantes amarelas e brancas.

Mãe, eu não quero crescer. Quero continuar a achar que a casa é tão grande que posso fazer corridas até ficar com a língua de fora, puxar sempre um banco para ir buscar as bolachas que estão escondidas na ultima prateleira do armário e fazer equilibrismo cada vez que tenho que sair da banheira.

Eu sei que estou a crescer. Os sapatos deixam de me servir de um mês para o outro, as calças começam a ficar curtas e as mangas das camisolas já não apertam e também encurtam, caem-me dentes todas as semanas e já me disseram lá na escola que agora é que vou ter dentes a sério como os crescidos, mas eu não acredito, quero os meus dentes de volta para poder mastigar o pão com doce que a Lu me dá quando chego da escola. Também me dizem que vou ter livros, canetas e cadernos, vou aprender a ler, a fazer contas, mas isso eu não me importo. O pior é que depois não vou ter tempo para ir ao escorrega e para andar de baloiço, encher a cara de areia, esconder-me atrás dos troncos das árvores muito direitinha para ninguém me encontrar. A mãe encontra-me e conta-me a história daquela sereia que queria ser uma menina, da baby-sitter que voava pendurada num chapéu, do rapaz pobre que encontra uma lamparina e descobre que o seu melhor amigo é um génio, da menina que derreteu o coração de um monstro e da índia que se apaixona por um inglês. Ponho o cinto de segurança porque pode aparecer um senhor quase sempre de bigode vestido de azul com um boné a dizer policia que mande parar o carro e dê um papel cheio de letras que deixam a minha mãe mesmo irritada.

Pelo caminho há muitos risquinhos brancos e muitos candeeiros que quase tocam no céu, tantos que desisto de os contar e então fecho os olhos e sonho com histórias de príncipes e princesas, com batatas fritas e coca colas, gomas e chocolates e adormeço.

Quando crescer tenho medo de andar sempre cansada, de já não gostar de ver o mesmo filme três vezes seguidas, de não me divertir a jogar a macaca e ás escondidas, de cantar até me doer a garganta e de fazer castelos na areia.

Sei que ainda faltam muitos anos para que todas essas coisas aconteçam e enquanto esses dias não chegam, só me apetece brincar, dar beijinhos ás pessoas de quem gosto e pensar que está mesmo para breve a minha viagem de volta ao mundo num balão de ar quente cheio de cores…' *

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