Friday, August 14, 2015
E quando agradecer é um verdadeiro desafio?!
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Hoje eu vim falar de algo que talvez esteja fazendo super parte do seu momento atual: RESISTÊNCIA. Será que você já sabe do que eu estou falando?
O termo "resistência" foi primeiramente cunhado pelo famoso psicanalista Sigmund Freud, o primeiro grande teórico a desenvolver a teoria do inconsciente e a falar sobre comportamentos que temos sem que tenhamos plena consciência deles. No idos de 1900, Freud nominou de resistência tudo aquilo que se opunha ao acesso do analisando a seu inconsciente. Ou seja: tudo aquilo que o paciente falava, pensava ou fazia que o afastava de conhecer-se mais profundamente era chamado de resistência.
Futuramente, o termo "resistência" deixou de fazer parte do vocabulário psicanalítico apenas, ganhando novos horizontes dentro da psicologia. De modo geral, a resistência acontece sempre que existe a necessidade de uma mudança acontecer mas, diante dela, argumentamos a favor de nossos comportamentos antigos, enxergamos e nominamos todas as desvantagens de mudarmos, queremos alcançar resultados diferentes mas não desejamos mudar nossas atitudes e somos pessimistas e derrotistas em relação a uma mudança.
Algumas carapuça vestiu por aí?
Eu sempre fui muito resistente a mudanças. Lembro-me de que, quando era criança e estudava em um colégio extremamente rigoroso e formal, por mais que não gostasse de lá me apavorava sempre que meus pais cogitavam a ideia de me mudar de escola. Eu preferia mil vezes continuar estudando em um lugar do qual não gostava e no qual não me sentia à vontade do que começar tudo do zero em um lugar novo. Pelo menos onde estava eu já conhecia as dificuldades e o que me desagradava. Mudar para uma escola diferente significaria conhecer novas dificuldades, e eu preferia ficar com as que eu já conhecia.
Eu segui nesta mesma dinâmica por muito tempo na minha vida.
Na época eu não conhecia o conceito de resistência. Eu achava que continuar na mesma escola era o melhor para mim e pronto. Na verdade nem é correto dizer que "era o melhor para mim" porque eu nem concebia a mudança. Hoje, olhando para trás, vejo que este mesmo comportamento se repetiu inúmeras vezes em minha vida. Passei anos trabalhando com coisas que não falavam diretamente à minha alma porque pensar em "começar do zero" em algo novo era muito ameaçador. Me envolvi em um relacionamento frustrado atrás do outro, sabendo que estava escolhendo homens errados, apenas porque me relacionar com os caras bacanas me parecia custoso demais. Recentemente, quando estava grávida e me aproximava do final da gestação, quase optei por continuar pagando o aluguel do conjunto onde tinha meu consultório mesmo sabendo que meu desejo era entregar o imóvel, apenas para não sair do meu "status quo", ou zona de conforto.
Para você ver como a resistência se infiltra em todas as áreas das nossas vidas...
Tenho recebido muitas mensagens de participantes do #desafiodagratidão2015 desanimados com seus processos. Muitos dizem que agradecer é muito difícil, que se sentem "forçando a barra" ao agradecer por coisas aparentemente "bestas" quando as "coisas realmente importantes" estão caindo aos pedaços. E eu, quando leio estas mensagens penso: "resistências". Porque SIM, agradecer ao invés de reclamar é uma BAITA MUDANÇA e quebra de status quo e a mente não quer abandonar a sua zona de conforto, que é agir como sempre agiu: elegendo coisas "bestas" e "coisas importantes". A verdade é que nossas mentes são muito rápidas em julgar as coisas como boas e ruins e, assim, perdemos oportunidades incríveis de crescimento.
Recentemente, minha amiga Paula Abreu deu uma explicação muito bacana e didática sobre como nossas mentes funcionam com relação à resistência, e tudo começa lá com o nosso cérebro reptiliano, herdado de nossos antepassados homens das cavernas. A questão é que, milhares de anos atrás, mudanças eram de fato bastante perigosas e ameaçadoras para nossos parentes distantes. Afinal, estamos falando de uma época em que antas e tigres dente-de-sabre gigantes passeavam por aí e qualquer deslize dos humanos poderia lhes custar a vida. Então, se uma rotina havia sido implantada e estava sendo bem sucedida, para quê mudar?
Em time que está ganhando não se mexe - e entenda-se como "time que está ganhando" um bando de seres humanos primitivos se mantendo vivos tempo suficiente para se reproduzir e não entrarem em extinção.
Naquela época, um indivíduo que ficasse "revoltadinho" com o estilo de vida que estava tendo, cansasse daquele dia a dia e quisesse sair da toca prá conhecer o mundo era devorado antes de chegar na esquina. As temperaturas baixíssimas não favoreciam o comportamento migratório do ser humano primitivo, que tinha mais é que ficar dentro da caverna mesmo e fazer rápidas escapadelas para o mundo exterior para conseguir alimento - e só. Foi só muito tempos depois, com a mudança do clima e o desaparecimento dos animais gigantes, que nossos antepassados conseguiram migrar, se espalhar pelo planeta e cultivar alimentos que o permitiram se fixaram em quase todos os locais do globo.
Mas o que é que isso tem a ver com resistência?
Tem a ver que, em épocas primitivas, o comportamento de liderança e autonomia, indispensáveis quando falamos de grandes mudanças de vida, não era adequado ao cenário no qual a vida humana se desenvolvia. O adequado era viver em bando, ter atitudes coletivas e ser como todo mundo era - afinal, a chance de se sobreviver assim era muito maior do que caminhar sozinho. No bando o ser humano estava protegido, no bando o homem primitivo ganhava força. Caminhar sozinho significava se tornar uma presa fácil para os mais variados predadores que estavam à espreita, esperando apenas um deslize de nossos antepassados para desfrutarem de uma farta refeição. Agir como todo mundo, pensar como todo mundo, imitar comportamentos alheios e se sentir seguro por ser assim foi o que garantiu aos nossos tatatatataravós a sobrevivência. Só que os tempos mudaram e continuamos sendo comandados pelo cérebro reptiliano, achando que o seguro é agir como a maioria.
Agora, reflita comigo: o que é que, olhando ao redor hoje em dia, a maioria faz?
A maioria se acomoda. A maioria busca o que é seguro. A maioria passa o dia em um escritório apertado, esperando dar a hora de bater o ponto para ir para casa se distrair assistindo a novela que mostra como sua vida é ordinária e miserável. E a maioria passa a semana inteira esperando chegar o final de semana, e as semanas esperando chegar o feriado, e o ano todo esperando chegarem as férias e a vida esperando se aposentar prá poder, finalmente, desfrutar do dinheiro que passou décadas juntando. E a maioria economiza dinheiro para as "épocas difíceis" e torna a vida difícil porque não tem dinheiro para nada. A maioria não olha prá dentro de si em busca dos reais motivos de sua sensação de infelicidade e agonia: a maioria olha apenas para fora, buscando culpados e responsáveis que justifiquem sua incapacidade de sair da caverna escura em que se sente aprisionada, sem perceber que quem amarrou as bolas de ferro em seus pés foi ela mesma. A maioria reclama. E reclama, e reclama, e reclama, repetindo que nem papagaio que as coisas deveriam ser diferentes do que são, e que o antídoto para a sensação de sufocamento que lhe aperta o peito é o telefone novo, a bunda no lugar, a viagem no final do ano, o casamento dos sonhos. A maioria olha apenas para o que não tem.
A única coisa que a maioria não faz é agradecer.
Porque o sentimento de gratidão não serve de nada para a sobrevivência, preocupação maior do cérebro reptiliano. Para ele o que importa é a segurança. E sair da zona de conforto, se arriscar em um novo projeto de vida, sair da posição de vítima dos outros e perceber que a vida não está sendo o que queremos por nossa própria responsabilidade e, por fim, agradecer pelas bençãos que já estão à nossa volta não é seguro. É o oposto disso. É loucura. É apostar tudo sem ter nada como garantia. É não se proteger, nem lutar contra e nem fugir do descontentamento, é dar a cara a tapa. É correr riscos e mas riscos e mais riscos. É mostrar o dedo para a mera necessidade de sobrevivência mas, se você está lendo isso, se minhas palavras estão chegando até você é porque você já se deu conta, em algum nível, de que a sobrevivência não te basta mais. É porque você já percebeu, de alguma forma, que a sua felicidade não vai estar no final de semana, nas férias remuneradas, no telefone novo, na bunda redondinha, na viagem no final do ano - porque a sua felicidade não está fora e sim dentro dentro dentro.
Só que dá medo.
Sim, dá medo. E diante do medo você pode até perceber que uma mudança é necessária mas, diante dela, argumenta a favor de seus comportamentos antigos. Você pode enxergar e nominar todas as desvantagens de mudar, você quer alcançar resultados diferentes mas não quer mudar atitudes e pode se tornar derrotista e pessimista em relação às mudanças. Ou seja: diante do medo você pode se tornar resistente.
A resistência pode atingir todas as áreas da sua vida sem que você perceba.
Eu já fui muito resistente em fazer as mudanças que minha vida pedia para se transformar naquilo que eu queria viver. Eu enxergava a minha vida como um amontoado de sonhos que eu sentia ser absolutamente incapaz de realizar. Eu tinha uma vontade absurda de fazer coisas diferentes mas, ao mesmo tempo, sentia que algo me trava e não sabia exatamente o que era. De certa forma este mal estar que a resistência sempre traz foi a gota d'água para iniciar meu processo de autoconhecimento e as pecinhas do quebra-cabeças da minha vida finalmente começaram a se encaixar e a fazer algum sentido quando participei do curso Namastê pela primeira vez. No Namastê tive a percepção da real dimensão de minha resistência e consegui compreender os motivos de sentir tanto medo. E é por isso que eu não canso de recomendar o curso para todas as pessoas que sentem que, de alguma forma, estão sabotando seu processo de desenvolvimento".
[ Flavia Melissa]
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