Esta altura do ano é pródiga em balanços e listas. Dezembro é também um mês propício a reflexões sobre o que fomos capazes de concretizar, o que tivemos de adiar, o que deixámos para trás, o que continuamos a desejar. Acaba um ano e começa o seguinte e essa mudança no calendário parece sempre trazer a reboque uma mistura de apreensão e de esperança. aqueles que convivem mal com o passado têm a sensação de que à meia-noite e um minuto do dia de ano novo se estão a livrar de todos os seus problemas. esta espécie de delírio festivo acaba uns minutos depois.
Precisamente à mesma hora, os que lidam com os problemas e os aceitam como fazendo parte da vida, sabem que têm muito para resolver e para viver. Não sei se aqueles que percebem as suas embrulhadas são mais esperançosos do que os outros que as negam ou que confortavelmente deixam andar, mas aconselharia – se me permitem – a que o fossem.
A lucidez é condição indispensável à saúde mental mas de maneira nenhuma obriga ao mau humor. Por isso o meu desejo de ano novo para os lúcidos optimistas é o seguinte: não se deixem vencer pelas circunstâncias.
[Crónica de Carla Quevedo, na Tabu]
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