Prefiro não saber, não te ouvir, não sentir ao olhar a tua sombra na parede e perceber que pode ser a última vez que a luz desenha o teu perfil aquilino, metade pássaro, metade imperador. Prefiro não saber que partes, porque ao menos assim, não choro a tua ausência, porque não me foi anunciada. E se não fizeres barulho e eu continuar adormecida, no dia seguinte vou imaginar que acordei em um outro lugar, que entrei numa dimensão desconhecida, que mudei de nome e de coração e que, como nunca te conheci, não posso chorar a tua perda.
[Margarida Rebelo Pinto]
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