Wednesday, April 16, 2008

A eterna questão.

'A reportagem que o DN publicou a 5 de Abril com o título ‘Novos clientes para a velha prostituição’ aponta os focos para os homens com menos de 30 anos enquanto frequentadores preferenciais de casa de alterne, clubes de strip e prostitutas de luxo.
Segundo a reportagem, ainda se mantém a velha tradição de perder a virgindade com uma profissional. Sobretudo para jovens com dificuldade em arranjar namoradas, a acreditar nas palavras de um testemunho directo: farto de ouvir as façanhas dos amigos, Luís tinha 18 anos quando se entregou nos braços de uma prostituta da berma do IC19 que o levou para um recanto da mata de Rio de Mouro, onde um colchão velho serviu de ringue para o estreante. Imagino que tenha sido no Verão, para evitar uma pneumonia com entrada directa para o hospital Amadora-Sintra.

Não é por acaso que se chama à prostituição a mais velha profissão do mundo. Haverá sempre procura e haverá sempre oferta. O que não deixa de me intrigar é que as novas gerações, que têm namoradas liberais e amigas desinibidas para quem o conceito de amizade colorida é uma prática corrente, continuem a procurar serviço pagos de sexo numa idade em que é suposto existir algum romantismo em relação ao amor e, consequentemente, em relação ao sexo.
Ou será que como sou mulher não consigo separar as águas e isto para os homens não faz sentido nenhum, porque para eles é muito mais simples?
Não passaram muito anos desde que tive uma discussão com um homem que me dizia que não enganava a namorada, embora considerasse que ir às p* não contava. Ou seja, como uma noite com uma profissional do sexo não se situava ao mesmo nível de uma relação – o que faz todo o sentido –, não afectava a relação existente. Embora o que ele fosse fazer com essa mulher se resumisse ao que fazia com a namorada: sexo. E esse pormenor com toda a relevância é que é muito difícil para uma mulher perceber e aceitar.
Imaginemos o contrário; um bando de mulheres vai sair à noite e procura o serviço de prostitutos para satisfazer as necessidades sexuais. Confrontadas pelo maridos/ companheiros/namorados, encolhem os ombros e respondem: ‘não faz mal porque não conta’. Imagino a linha de atendimento telefónico da APAV a rebentar pelas costuras e algumas entradas nas urgências hospitalares por agressão.

Há um lado animalesco que leva os homens a procurar o sexo pago e esta é uma verdade universal incontornável. Mas em Portugal acredito que esta realidade é cultural. A literatura portuguesa, espanhola e sul-americana está tão recheada de bandidos e patifes como de mulheres abnegadas e virtuosas. Talvez estes jovens que frequentam prostitutas ao final da noite, depois de fazer a ronda dos bares da cidade, tenham como referência próxima o pai, tio ou irmão que faz o mesmo. Voltando à tradição de perder a virgindade, os jovens continuam a ser levados pelos próprios pais ao ‘baptismo’.
Estas práticas enraizadas acentuam o abismo entre os dois sexos; as mulheres queixam-se de que os homens só gostam de porcaria e os homens reclamam que as suas mulheres não têm o mesmo andamento. A eterna questão é: se elas tivessem o mesmo andamento, poderiam ser mulheres deles? Ou seriam consideradas umas grandes p* e por isso mesmo sem qualificações para o estatuto respeitável da legítima?
Afinal em que ficamos? Parece-me que uma lady na mesa e uma louca na cama é afinal só para os mais evoluídos, mesmo que sejam cantores pimba'.


[Margarida Rebelo Pinto]

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