Dos dias.

"Há dias que deixou de contar. Deles apenas traz memórias que tenta apagar, em vão, mas com esforço. Repetem-se em si, com detalhes que desejava nunca ter visto ou sentido e com dissabores que, em alguns casos, nem sequer lhe causam grande amargura.
Dos dias novos, dos que aprendeu a não contar, guarda sempre coisas bonitas, parecem pedras preciosas e guarda-as num sítio macio, bonito e esperançoso. Dá a todos o mesmo sorriso, o mesmo beijo e o mesmo abraço. Todos os novos dias são seus.Vive como se o passado pesasse apenas o suficiente, nem muito nem pouco. Serve-se dele para nunca se esquecer do que aprendeu e para fazer valer cada lágrima, para que o que se repetir venha com menos intensidade e leve sempre cada vez menos pedaços de si mesma. Sabe que os dias se sucedem em catadupa e que nada do que disser ou sentir vai mudar essa sucessão tão lógica como confortante ou desesperante.
Reconhece as qualidades vitais do relógio e a sensatez de cada ponteiro, espera que assim como aceleram os seus momentos de felicidade, levem à mesma velocidade os seus dias menos bons e, portanto, não os culpa, antes os venera.
Não houve um dia, daqueles que deixou de contar, que roubasse o sol ao azul do céu, nem a lua à negritude da noite. Viu-os a cada dia mais brilhantes e luminosos e sabe que qualquer lembrança contrária apenas provará a tristeza que permanecia nos seus olhos e jamais a beleza do que contempla.
Não nega, porque não pode, nem quer, a importância de tudo o que a rodeia e vocifera o seu amor em cada pedra de calçada. Sabe o que a faz feliz e gosta de pensar que sabe o caminho certo que a levará lá, mas não sabe. Só sabe que quer ser feliz.
Dos dias que passaram e dos que, invariavelmente, passam por si não deixa que lhe levem tudo e, talvez por isso, também não os esprema excessivamente, como se fossem uma laranja. Mas absorve-os como pode, como poderia uma esponja. Sabe que por mais dias que voem o seu sorriso será sempre o desejo secreto da felicidade e os seus olhos o reflexo da alegria que a espera. Onde quer que esteja. E seja ela qual for."

[Porque este texto diz tanto e tão bem... porque foi escrito por alguém que eu admiro muito, a minha querida Soi.! ;) Desculpa, mas não resisti a pô-lo aqui!]